A CHUVA E O GATO __

 

É mesmo estranho saborear a chuva depois que crescemos,não é?

Quer dizer, quando crianças, amamos o som, o cheiro e o gosto destas gotículas de água. Muitas vezes atribuímos significados e sonhamos coisas inacreditáveis. 
Para mim,chuva significava as lágrimas de Deus pelos homens. Lembro-me de imaginar,já naquela época, por que o Todo-Poderoso resolveu criar seres que o deixavam triste - por que não destruía a todos e ficava alegre? Olhava pela janela e já me tornava imediatamente melancólica,mas ainda assim adorava a chuva, era uma sensação única e vibrante a de deixar as águas nos banharem, abrir a boca para o céu e tentar matar a sede.
Só muito mais tarde descobri que a sede era de vida, a chuva me fazia tremer até os ossos e no entanto era um momento  perfeito, tão belo e verdadeiro.
Hoje, ouço meus suspiros de desagrado perante o menor chuvisco, penso imediatamente nas roupas molhadas, no possível resfriado, no cabelo, no barulho do sapato encharcado, só não penso na vida que é a chuva. Esqueci-me do cheiro doce, dos cabelos pingando d'água, das pseudo lágrimas que já esconderam algumas verdadeiras lágrimas entre elas.  Tratei de desassociar a chuva do sentimento infantil e puro que ela trazia. Chuva é contra-tempo, contra producente, destruidora de estilo, bom gosto e planejamento.
Essa ingenuidade perdida me enlouquece,
sinto-me lobotomizada, adultomizada, limites que não consigo transpor. Tão triste que é crescer. O gato saudoso observa a chuva através do vidro. Você pode ouvi-lo suspirar? 

 

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